domingo, 2 de fevereiro de 2014

CARAJÁS - PA

Na parte Leste do Pará, essa é uma pequena região de floresta amazônica preservada, em meio ao "deserto" de pasto causado pela destruição. Famosa por conter as minas de Ferro da Vale e o antigo garimpo de Ouro de Serra Pelada. 
Nascer do Sol
Carajás se localiza na parte centro-leste do Estado do Pará, próximo as cidades de Parauapebas e Canaã de Carajás.
Localização - parte verde escuro = floresta; parte mais clara - floresta desmatada
O principal acesso para Carajás é a rodovia a partir de Marabá, passando por Eldorado de Carajás e por Curionópolis. A estrada é péssima, perigosa e com muitos buracos. É normal ficar preso nela por manifestos do MST (Movimento Sem Terra) ou por estar passando boiadas.
Boiada na rodovia
Estive nessa região durante 1 ano (2012/13), trabalhava para a mineração Vale na área de pesquisa para achar minério de Cobre. Ficava 20 dias trabalhando direto e tinha 10 dias de folga. Meu trabalho se resumia em ir para diversas áreas da Vale mapear as rochas e verificar possíveis ocorrências de Cobre, isso fez com que eu conhecesse muitos locais diferentes da região de Carajás, desde a parte Norte, Sul, Leste e Oeste, áreas de floresta, de pasto, garimpos, minas, vilas, rios, etc, e assim pudesse ver como é a realidade dessa região tão pouco conhecida.
Minério de cobre em antiga mina
A parte de conhecer essa região foi uma experiência incrível que me mudou em vários sentidos, porém a parte de trabalhar numa grande empresa cheia de burocracia com uma metodologia de trabalho que eu não concordava, fizeram com que durasse tão pouco tempo minha permanência lá.
Nesse tempo pude ter experiências bem diferentes, como andar de helicóptero sobre a FLONA de Carajás, ficar acampada no meio da floresta (junto da equipe da Vale), dormir em rede, dormir em container, entre outras coisas.
Helicóptero
Clareira do acampamento
Acampamento na floresta
Container
Nos trabalhos de campo pude conhecer muitas frutas nativas, assim como as plantas da região, sendo a maioria medicinal, devo esse conhecimento aos meus auxiliares de campo (pessoas nativas de lá ou do Maranhão, que trabalham duro e ganham muito pouco para isso) e que sempre me ensinavam o que sabiam. 
Mapeamento na floresta
No geral a Floresta Amazônica é constituída por árvores de grande porte, como é o caso da Gameleira (foto da direita).

Esse é o famoso açaí, muito comum em regiões com rios, ou melhor, grotas (é como se fala lá), ele ocorre nesses cachos e é necessário pessoas subirem nas palmeiras para poder tirar os cachos, depois debulhar tirando o frutinho, deixar de molho por muitas horas e depois colocar numa máquina que tira a polpa da semente. A forma mais comum de comer açaí no norte é junto ao peixe em temperatura ambiente e com farinha por cima, na primeira vez é estranho, mas depois que você acostuma fica gostoso (isso foi antes de virar vegetariana).
 

Há também o bacaba, fruta bem parecida com o açaí, de gosto mais suave e com frutos maiores, é consumido da mesma forma.

Outra planta muito comum, principalmente nas área de pasto, é o Babaçu, com ele se faz óleo para cozinha, é bem gostoso (tenho um em casa), ou pode-se comer a castanha que tem no "coco" dele.
 

Há o cacau silvestre, ele é diferente do mais comum, pois seu fruto ocorre ao longo de um único tronco. Sua flor é vinho e possui um cheiro maravilhoso. Várias vezes quando estávamos andando pela floresta sentíamos seu cheiro.

Outra planta famosa é a castanheira, com alturas imponentes, constituída por um tronco longo sem ramificações até chegar na copa. Seu fruto é conhecido como ouriço e é onde dá as castanhas do Pará ou do Brasil. Os principais comerciantes da castanha são os índios, que na época de novembro/dezembro saem para recolher os ouriços que caem nas matas.

Mais rara de se ver, porém com importância igual as outras, há a Copaíba, famosa por extraírem seu óleo e usarem medicinalmente ou em cosméticos. Falam que tem que ter experiência para saber como tirar o óleo da planta sem fazer com que ele acabe de uma só vez.

Famosa pelas polpas para suco, o Cajá é o fruto de uma grande árvore, comum em áreas de floresta e pasto. Já me salvou em um dia que estávamos no mato e acabou nossa água, de repente vimos várias dessas frutinhas no chão

Nas áreas de floresta, próximo a rios e grotas, ocorre a Paxiúba, conhecida como Palmeira andante, ela possui ramificações na parte de baixo do tronco, com pequenos espinhos, muito utilizada pelos índios para ralarem coisas.

Há também grandes pés de Jatobá, e segundo Seu Daniel (o da foto), a casca possui várias propriedades medicinais.

De vez em quando tínhamos sorte de passar por áreas de sítios e fazendas com muitos pés de fruta, essa da foto é parecida com a fruta do conde, ata ou pinha.

Lá há uma imensidão de tipos de cipós, cipó fogo, cipó titica, cipó timbó, cipó escada, jagube, etc, cada um com um uso diferente, como para beber água, fazer artesanato, fazer cestas, remédios, etc. Quando descobri um tipo de cipó que tinha desenhos dentro e que com ele se faz mandalas, comecei a coletar muitos durantes os trabalhos de campo e trazer de avião para SP, era uma mochila de 20kg só com cipó!!!


Bom, alem da grande variedade de plantas e frutas, há os animais. O que eu mais via eram araras (azuis e vermelhas) e jabutis, porém algumas vezes vi cobras (Surucucu de fogo, caninana, cipó), veado, gato do mato, jacaré, porcão/queixada e já ouvi barulho de anta e de onça. Infelizmente há muita caça também, as pessoas de lá gostam de comer jabuti, veado, entre outros, e há caça por onça, pois elas matam bezerros, ouvi falar que em uma fazenda o dono pagava 1000 reais por onça morta. Como podem ver abaixo, tem a foto de um gato maracajá morto, provavelmente por esse motivo.


A região é rica em grandes Rios, como o Parauapebas, Itacaiúnas e Tocantins.
Rio Itacaiúnas
Rio Itacaiúnas
Rio Tocantins em Marabá
A cidade que eu conheci melhor foi Parauapebas, é uma grande cidade para os padrões do Pará, devido a mineração e os empregos gerados por ela, porém é uma cidade que cresce sem infraestrutura nenhuma, sem saneamento básico, sem educação, sem "N" coisas básicas. Porém ao mesmo tempo que faltam coisas assim, você irá ver restaurantes e hotéis de alto luxo, mais caros que muitos em SP!!! 
Banco do Brasil em um dia normal
Remédios naturais
É uma cidade sem identidade cultural própria, pois grande parte das pessoas que moram ou vivem lá são "forasteiros", estão lá para trabalhar, ganhar seu dinheiro e voltar para suas terras, logo a cidade não se desenvolve como deveria. Grande parte dos trabalhadores que moram lá são do Maranhão e os trabalhadores de curso técnico ou com ensino superior são de diversas regiões do Brasil, porém são minoria.
Lá não é uma cidade turística! 
O que eu mais gostava lá, era a feira com seus produtos regionais.
Cupuaçu, cajá, murici, castanha e tucupi
Na área da FLONA, há um zoobotânico da Vale, aberto para visitação, não é muito grande, mas é interessante. De fim de semana tem índios vendendo artesanato na entrada.

Uma coisa que é notável na região, é o desmatamento, tanto por madereiras ilegais quanto para fazer pasto para gado, e o pior é que essa destruição toda foi de 30 anos para cá. A única área de floresta é a FLONA, que é preservada pela VALE, devido a mineração. Esse foi um dos principais motivos para me tornar vegetariana, ter visto com meus próprios olhos a destruição causada para criar gado para abate.
Transporte de madeira
Pasto
Contraste da floresta com o pasto
A região é muito importante geologicamente e economicamente por conter muito minério, os principais são de Ferro, Cobre, Ouro, Platinóides, Manganês, entre outros. Quando andei de helicoptero pude ver a grande mina de Ferro de cima e visitei alguns garimpos de cobre e uma antiga mina de ouro.
Mina de Ferro N4
Antiga mina de ouro Alemão
Garimpo de Cobre perto da vila Racha Placa
Garimpo de Cobre perto de Canaã de Carajás
Bom, se tivesse que indicar lugares mais turísticos na região, falaria para visitar o Garimpo das Pedras, pequeno povoado com vários garimpos de ametista (como o da foto com um buraco) e uma piscina natural com água quente (terma), e uma cachoeira perto de Canaã de Carajás, porém acho que não é mais permitido a visitação, devido a construção da mina de Ferro na Serra Sul (S11), lá tinha 2 cachoeiras bem bonitas.
Vila e terma
Garimpo de Ametista
Cachoeiras na Serra Sul


Foi 1 ano de muito aprendizado, tanto profissional como cultural, conhecer o Pará de verdade, ver que realmente é uma terra sem lei, que ainda há pistoleiros, muita pobreza, pouca educação, muito desmatamento, e ao mesmo tempo uma terra tão rica em plantas, frutas, minérios e animais.

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